A falha do Brasil em semear uma nova geração
Nos últimos anos, os níveis de educação no Brasil atingiram patamares alarmantes, isto é, quando nosso desempenho educacional é comparado com o de outros países ao redor do mundo, nos deparamos com uma diferença abissal de desempenho. Além disso, nos deparamos com uma queda vertiginosa ao longo das décadas, o que nos levou a resultados nada satisfatórios. No fim das contas, os jovens brasileiros terminam sua jornada escolar apenas sabendo ler e escrever, quando sabem.
Inteligência para o futuro
Conforme abordado em coluna anterior, nosso país vem se saindo muito mal em exames internacionais como o Pisa. O exame em questão analisa não somente a eficiência do ensino nas áreas de linguagem, matemática e ciências, mas também em como os países têm buscado estimular e desenvolver a criatividade de suas crianças. Cabe salientar que como criatividade são compreendidas não só as habilidades artísticas, mas também a capacidade de expressar pensamentos e ideias por linguagem escrita e gráfica, inventividade científica e social, entre outros.
Onde está a resposta para a discussão?
Como todo e qualquer assunto em pauta em nossa terra verde e amarela, a grade curricular também é discutida de forma completamente polarizada. De um lado temos aqueles que defendem a grade atual com unhas e dentes, que irão às ruas se manifestar a qualquer sinal da mínima intenção de alteração. Posicionados de forma diametralmente oposta, temos aqueles que dirão que a grade curricular está defasada e que precisamos urgentemente buscar por opções mais eficientes para preparar alunos para a vida, não só para a carreira acadêmica.
Analisando o ponto de vista do segundo grupo mencionado anteriormente, é como se dissessem que os peixes têm sido avaliados por sua capacidade de subir em árvores, o que por sua vez nos fornece material para uma discussão deveras interessante. Fica fácil compreender as críticas sobre a obrigatoriedade de avaliar uma criança ou adolescente no que diz respeito às disciplinas exatas (por exemplo), uma vez que a mesma não demonstra tais aptidões. É muito comum ouvir algumas pessoas dizendo “mas não faz sentido investir tantos anos batendo nessa tecla, isso é perda de tempo, deveríamos investir em desenvolver aquilo que a criança mostra ter mais capacidade, pois assim ela atingirá patamares mais elevados”. Perfeitamente compreensível.
Sobre o mesmo ponto trazido à discussão no parágrafo anterior, algumas pessoas analisarão a mesma questão de forma completamente diferente, e dirão, “acho eficiente que desde cedo a criança compreenda que na vida em sociedade ela terá que lidar com o fato que não pode ser boa em tudo, que possui pontos fortes e fracos”. Parando para pensar, realmente é um ponto de vista interessante, isto é, ao longo da vida teremos que nos relacionar com pessoas que executam com facilidade tarefas que comprovadamente somos deficientes, e isso é sociedade. Deixo a decisão em suas mãos, caro leitor, você é completamente livre para ponderar e chegar às suas próprias conclusões.
Dos recortes e pinturas ao diploma
Adentrando ainda mais no tema, é seguro afirmar que o problema abordado anteriormente perdurará ao longo de toda a trajetória acadêmica do aluno. Conforme avançam os anos, a discussão mudará de figura, levantando questionamentos acerca do funcionamento do ensino médio. De um lado, os indivíduos afirmarão que os alunos devem agarrar-se firmemente à grade curricular atual, já que atualmente a maioria das provas é baseada na mesma, e qualquer um que pretenda ingressar nas melhores universidades deverá apresentar certa desenvoltura nas disciplinas em questão.
Parte da população por sua vez afirmará que o modelo atual é extremamente mecanizado, que os alunos estão apenas se preparando para serem estudantes profissionais, e aqui chegamos ao ponto mais polêmico da discussão.
Uma sociedade que não se rende
Imagino que não seja surpresa para você que vivemos em um país de terceiro mundo, goste você ou não dessa terminologia. Precisamos ser honestos para entender que nosso país ainda é carente em pontos básicos, não só a educação, mas saúde, saneamento básico e muitos outros. Em um ambiente como esse, é comum que os indivíduos valorizem a sobrevivência, a barriga cheia e a estabilidade mais que qualquer coisa, e isso é completamente normal e beira o nobre, isto é, independentemente de qualquer coisa, no dia seguinte levantamos a cabeça e vamos à luta. O grande problema aqui é que, na ausência de um efetivo progresso, tais preocupações se perpetuarão, e nosso povo será sempre um povo focado na subsistência e em questões básicas de sobrevivência.
Os brasileiros são um povo trabalhador, e obviamente isso é algo para se orgulhar, mas enquanto formos mantidos nesse patamar, nunca elevaremos nossos olhos. Quero dizer que enquanto gastarmos todas as nossas energias com a sobrevivência, nunca teremos a possibilidade de ser engajados em coisas mais elevadas e que definitivamente elevam o patamar de um povo. Não é justamente por isso que políticos de esquerda dizem odiar a classe média, a parte da população que tem a sobrevivência resolvida e pode começar a evoluir o pensamento, tornando-se imunes às propagandas de coitadismo?
Inteligência e direcionamento
Voltando às questões que tangem à educação, as universidades passaram a ser vistas não como uma fábrica de intelectuais, de pessoas cujas mentes nos colocam em condições de dialogar com o mundo de igual para igual, mas sim a ser vistas como uma forma de ascensão social. Isso reduz muito seu real objetivo. Fato é que isso é perfeitamente compreensível uma vez que nossos jovens não obtêm conhecimento sobre finanças, sobre administração de empresas, empreendedorismo, impostos, inteligência emocional, o que faz com que em suas cabeças, o diploma seja a primeira e única opção no que diz respeito a melhorar a condição financeira.
Obviamente, o diploma tem seu peso, é a chave para portas que só se abrem com ele, mas nem de longe é a única opção. Talvez a condição financeira não seja o único ponto em questão, talvez o status obtido em profissões respeitadas também valham ouro numa terra onde é comum passar por dificuldades. Ou então o terno e a gravata sejam a cereja do bolo no que diz respeito a validar socialmente suas capacidades.
Sabendo de tudo isso, talvez as pessoas que defendem a alteração da grade curricular estejam certas, uma vez que comprovadamente nossos jovens não detêm a capacidade para enxergar novas rotas, e para encontrá-las se faz necessária a exata criatividade, tema da presente discussão. Com isso, não quero dizer que a grade curricular atual deva ser completamente extinta, mas sim que deve ser modernizada como tudo no mundo se moderniza.
É completamente normal que apareçam argumentos contrários, mas analisando a realidade prática, não me parece exagero afirmar que nosso sistema de ensino atual não tem como característica formar pessoas que pensam fora da caixa. Essa afirmação pode ser facilmente comprovada pela saturação do mercado, pelas enormes quantidades de profissionais que não conseguem exercer a profissão. Também pode ser comprovada pelo massivo surgimento de faculdades à distância, entregando material de baixa qualidade por um baixo preço, já que a situação financeira da população fica cada vez mais difícil com o passar dos anos. Em resumo de tudo isso, a educação particular virou negócio e a educação pública virou política.
Gaiolas digitais para o corpo e para a mente
Como produto de uma sociedade que se digitaliza e se isola através do mundo da internet, nossos estudantes apressados agora fazem suas tarefas com o uso de inteligência artificial alegando que possuindo as respostas certas é só revisar e internalizar o conteúdo, como se fossem perder seu tempo fazendo isso. Fato é que a era digital está matando as últimas gotas de criatividade das pessoas, e tudo que diz respeito a se esforçar, ser criativo e inventar ficará apenas no imaginário.
Como diminuir o abismo educacional entre o Brasil e os países que figuram no topo dessas listas? Falta muito até nos equipararmos com Singapura? Será que chegaremos lá um dia? Como semear novas gerações mais criativas se a criatividade vem sendo assassinada, uma vez que crianças recebem smartphones desde bem novas e, mais tarde, inseridas no sistema de ensino, não é garantido que receberão os corretos estímulos a fim de desenvolver essa camada da mente?
