No último dia 28 de julho (domingo), completaram-se exatos 110 anos desde o início da Primeira Guerra Mundial, uma batalha de grandes proporções que envolveu as principais potências mundiais da época. Em alusão a essa data, vamos relembrar os motivos que desencadearam este conflito, como ele se desenvolveu e qual foi o seu desfecho e as marcas que esse embate deixou no mundo.
Mas o que levou o mundo a se desentender a ponto de eclodir uma guerra?
Este evento ocorreu logo no início do século XX, decorrente de tensões que já vinham desde o século XIX, como a Revolução Industrial, que gerou uma forte concorrência comercial, dividindo a Europa, também chamada de “velho mundo”. Como consequência, os países iniciaram o que chamamos de corrida armamentista, uma atitude que sugeria a iminência de uma guerra, e que foi denominada como “paz armada”. A França já estava em disputa com a Alemanha desde a Guerra Franco-Prussiana, o que aumentou ainda mais a rivalidade entre as duas potências.
A Europa, especialmente a França, vivia uma fase de esplendor, marcada por grandes transformações e avanços tecnológicos, sobretudo nas artes, na cultura, no intelecto e na ciência. Esse período, conhecido como a Belle Époque, trouxe inovações significativas como o cinema e a fotografia, entre outras.
O imperialismo, a disputa por territórios na África e na Ásia, a política de alianças, a corrida armamentista, o revanchismo francês e o nacionalismo exacerbado são apontados como as principais causas da Primeira Guerra Mundial. No entanto, o que realmente precipitou o conflito foi o atentado de Sarajevo, onde o herdeiro do trono da Áustria-Hungria foi assassinado por um militante sérvio, sendo este evento considerado o estopim da guerra.
Assim, o forte nacionalismo, somado às disputas imperialistas, levou os países europeus a formarem alianças militares, conhecidas como a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente. A Tríplice Entente era composta por França, Reino Unido e Império Russo, enquanto a Tríplice Aliança incluía Alemanha, Império Austro-Húngaro e Itália. A Tríplice Entente buscava manter sua hegemonia, enquanto a Tríplice Aliança visava conquistar maiores objetivos.
A Primeira Guerra Mundial teve duas fases distintas: a fase de avanço e a fase de trincheiras. Na fase de avanço, ou de movimento, nos primeiros meses do conflito, as tropas se movimentaram rapidamente para tomar posições no front. Os alemães avançaram rapidamente, chegando a poucos quilômetros de Paris. No entanto, as estratégias militares utilizadas ainda eram do século XIX, e, com o surgimento de novas tecnologias bélicas, essa tática de mobilidade não se mostrou mais eficaz.
Surge então a segunda fase da guerra, a fase de trincheiras. Para não perder as áreas conquistadas, o exército alemão adotou a formação de trincheiras como estratégia defensiva. A Tríplice Entente também utilizou a mesma tática. Os soldados permaneciam por meses nessas trincheiras, em condições degradantes e insalubres.
Todos acreditavam que a guerra duraria apenas alguns meses e que a vitória seria rápida. Os soldados esperavam voltar para casa a tempo de passar o Natal com suas famílias. No entanto, a realidade foi bem diferente do que imaginavam. A cada mês que se passava, tornava-se mais evidente que o conflito não terminaria tão cedo. A situação se arrastava, resultando em grandes perdas, com muitos soldados morrendo em combate e a escassez de alimentos afetando tanto os soldados quanto os civis.
A Alemanha, utilizando submarinos, atacava navios que transportavam comida para o território inimigo, agravando ainda mais a situação da população. Todos sofriam com os impactos prolongados da guerra.
Uma mudança decisiva ocorreu quando a utilização de submarinos pela Alemanha levou os Estados Unidos a abandonar sua neutralidade e ingressar na guerra em apoio à Tríplice Entente, tornando-se uma parte central do conflito. Simultaneamente, a Rússia retirou-se da guerra devido a uma revolução socialista que ocorria em seu território, e a Itália alterou sua posição, ingressando na guerra ao lado oposto.
No início do conflito, o Brasil manteve uma posição neutra. No entanto, após os alemães afundarem navios brasileiros em 1917, o Brasil declarou guerra à Alemanha. O país enviou enfermeiras, médicos e aviadores, embora sua participação tenha sido limitada devido à falta de um arsenal bélico significativo para enfrentar a complexidade do conflito.
O conflito encerrou-se em 11 de novembro de 1918, com a Alemanha solicitando rendição e saindo profundamente prejudicada em todos os aspectos. O fim da guerra foi formalizado pelo Tratado de Versalhes, uma conferência realizada em Paris para resolver o conflito. Este tratado impôs duras penalidades à Alemanha, incluindo a perda de suas colônias na África, a devolução de territórios, a redução de seu poder militar e uma significativa dívida de guerra.
O Império Austro-Húngaro foi desmembrado, resultando no surgimento de novos países no mapa europeu, como Hungria, Tchecoslováquia e Iugoslávia. Do antigo Império Czarista Russo, emergiram Letônia, Lituânia e Estônia. O Império Turco também foi fragmentado, com seus territórios sob controle da França e da Inglaterra.
O grande vencedor do conflito foi os Estados Unidos, que se tornaram os maiores credores do mundo e assumiram a liderança na hegemonia capitalista. A ascensão do socialismo, não apenas na Rússia, mas também com tentativas frustradas na Alemanha e na Hungria, gerava apreensão entre as burguesias. A guerra, que deveria pôr fim a todos os conflitos, mergulhou a humanidade em uma era de incerteza e insegurança.
Em 12 de novembro, o jornal ‘Correio da Manhã’ estampou a notícia em sua primeira página com a seguinte manchete:
“A AURORA DA PAZ”
AMSTERDAM, 11 – (Correio da Manhã) – O armistício foi assignado pelos delegados alemães, às 6 horas da manhã de hoje. A’s 11 horas terminaram as hostilidades.”
Como já mencionado, além de ter sido derrotada, a Alemanha sofreu prejuízos em todos os sentidos. O Tratado de Versalhes impôs condições rigorosas ao país, que foi considerado o único e exclusivo responsável pela guerra. Os alemães não tiveram o direito de participar da conferência nem de questionar os resultados impostos pelo tratado. Assim, a Alemanha saiu ainda mais prejudicada, e a sua situação devastadora alimentou uma crescente revolta, amargura e crise, fatores que contribuíram para o surgimento da Segunda Guerra Mundial. Assunto que será abordado em momento oportuno!
