Olimpíadas avec Décadance

A miserável Abertura sem Arte

@trinitylux.art (Instagram)

A falta de critério artístico causando polêmica na abertura das Olimpíadas Paris – França 2024

Expectadores no mundo todo, incluindo muitos dos próprios cidadãos franceses, refutaram a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, em 26 de Julho desse ano. Uma festa sempre rica em plasticidade, inovações tecnológicas e ‘coreográficas’ para enaltecer esse Evento mundialmente tão importante – que apenas ocorre a cada quatro anos – falhou miseravelmente. Parafraseando antagonicamente o romance “Les Misérables” do escritor francês Victor Hugo (século 19), os artistas e organizadores responsáveis, destacando Thomas Jolly como diretor-artístico da celebração, pecaram com pobreza de detalhes a não focar na beleza e representatividade dos desportos e seus dedicadíssimos atletas. Esses últimos, a meu ver, não foram honrosamente representados. “Não foi uma festa para os atletas, ou público.”, comentou Sakamoto no Jornalismo TV Cultura. A abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 causa grande polêmica.

A emoção removida da festividade Olímpica?

Eu, particularmente, estava na expectativa de sentir a mesma emoção de criança com 6 anos que era, quando das Olimpíadas de Moscou em 1980. Essa cena marcou a infância de muitos terranos que hoje são adultos. Chorei junto do ursinho mascote Misha naquela despedida, emocionada com o que já entendia ser a maior comemoração esportiva do planeta, de seres humanos em suas superações, de união entre os povos, e ciente que só veria aquele show impactante, novamente, com 10 anos de idade (não inteirada da situação geopolítica daqueles tempos, obviamente, quando 65 países liderados pelos EUA boicotaram os jogos por conta da Guerra Fria). Agora, pelo contrário, a Terra assistiu em Paris (um dos berços das Artes!) o que foi considerado “deboche”, “canalhice”, “sátira”, “desrespeito” e ladeira abaixo, por cidadãos e alguns setores das sociedades, críticas negativas referentes à estrutura oferecida e à encenação em si.

Alguns setores da sociedade mundial atentam para “lacração”

Realocada às margens do Rio Sena, com as delegações sendo apresentadas em barcos, debaixo de bastante chuva e com arquibancadas a céu aberto, a solenidade arriscou sair da reclusão dos estádios, além de adoecer a plateia, imprensa e comentaristas. Essa inovação trouxe gratas surpresas por um lado, realçando um ponto turístico e marco da capital desse país, mas limitação artística por outro: não existiu um espaço compatível para apresentações ricas em Arte, extensas e mais bem trabalhadas. Poderiam revezar atos dessa festividade em ambos os locais, aberto e fechado. O que não impediu uma cena de ser montada, como uma releitura do episódio e icônico quadro “A Última Ceia” de Leonardo da Vinci (1452-1519), que causou revolta ou “comoção moral” em católicos, não-católicos, cristãos e não-cristãos de todo o mundo. Uma mise-en-scène com Drag Queens em pouca roupa e pessoas transgênero interpretando Jesus Cristo e seus apóstolos, onde o pão e vinho foram substituídos pelo ator e cantor Philippe Katerine saindo de um cloche em carne e osso, apenas com um tapa sexo e corpo pintado de azul, vivendo com ironia Dionísio, o deus pagão das festas, do Teatro, de orgias regadas a vinho. Jolly se retrata dizendo aos quatro cantos que a Santa Ceia não teria sido sua inspiração, que a referência teria sido outra… “Nunca houve qualquer intenção de desrespeitar qualquer grupo religioso”, disse por sua vez Anne Descamps, diretora de comunicações do Comitê Olímpico, em entrevista coletiva. “Se alguém ficou ofendido, lamentamos muito”, acrescentou.

Te peço, caro leitor, que possa se despir de qualquer narrativa, crença ou ideologia e analise diante das imagens abaixo, se concorda que houve a profanação de uma fé, independente de qual seja, e de uma pintura artística e histórica. Caracteriza ou não “zombaria ao Cristianismo”? Degradação de uma obra que é tesouro da Humanidade, paralelamente a crenças? Gostaria da sua opinião sobre tanta polêmica na abertura das Olimpíadas Paris 2024.

*o fato é que, como uma das consequências disso, a empresa de telecomunicações norte-americana C Spire retirou seu patrocínio das Olimpíadas, sem perdão em considerando esse um “ato blasfêmico”.

O respeitoso e valoroso olhar para a comunidade LGBTQIA+

Adulta, ciente dos trâmites geopolíticos atuais, das citadas “agendas” e do que nomeiam de cultura-woke, tenho critérios mais aprofundados para avaliação. Entenda que cresci nas coxias de teatros, junto de uma irmã bailarina-clássica profissional, convivendo com bailarinos e bailarinas, homens e mulheres, em sua maioria, homossexuais. Depois de certa idade adiante, apenas, fui descobrir para meu espanto e recusa que, sobre essa ‘diferença’ um humano praticava preconceito contra outro, exclusão e crimes. Para mim, eram meus queridos amigos artistas, que faziam meu coração vibrar e brilhavam meus olhos, ponto. Eram exemplares cenógrafos, figurinistas, maquiadores, atores e atrizes, dançarinos e pessoas, exemplos de empenho e esmero em palco ou fora dele. Ainda que o petit-comité, em termos de bom senso, tenha priorizado a diversidade, a inclusão, a fim igualmente de promover a aceitação, numa vitrine para a qual os olhos do globo estavam voltados, essa ação deveria ter sido programada com mais critério, com muito mais valorização desses próprios Artistas, que apresentam performances lindas, impecáveis, glamourizadas em talento! Por exemplo, para mim o ápice do espetáculo foi Celine Dion num patamar alto da piscante Torre Eiffel interpretando o ‘Hino ao Amor’, de Édith Piaf. E por qual razão não colocar uma Drag Queen multi- performista e exímia cantora, como muitas que existem, igualmente cantando ou fazendo um Lip Sync incrível de Piaf?

A apresentação da cantora pop Lady Gaga, como uma alusão ao Moulin Rouge foi um pouco dispersa e bagunçada, e um feio registro foram as dançarinas de Can Can mal ensaiadas e sem sincronia, como de costume nas danças desse estilo.

*A liga que tanto prezou e escancarou tolerância e inclusão, se dedicou muito à retirada forçosa de moradores de rua, mendigos parisienses, maquiando as ruas da linda Paris. Poderiam os ter convidado a assistir de camarote.

Mais uma bola fora, elegeram como mascote oficial um chapéu tradicional francês, o gorro frígio, “Phyrges” ao invés dos tradicionais bichinhos ou personagens carismáticos. Esse símbolo histórico da França, que era para trazer aos jogos o espírito de liberdade e revolução franceses, esse sim, está sendo amplamente ironizado como o “Clitorito”.

Certamente, o pintor francês impressionista Pierre-Auguste Renoir (1841 – 1919), que era um aficionado representante da figura humana, fascinado pelo humano e nus, dedicado a homenagear a beleza com suas pinceladas livres e de cores alegres e vivas, ativo no empoderamento da feminilidade através de suas obras, estaria se remexendo no túmulo por conta dessa desastrosa e polêmica abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, na França de sua origem. Abertura dos Jogos Olímpicos Paris 2024, realmente, causa polêmica.

Trinity Lux

Trinity Lux é artista plástica multimídia, cantora profissional. Bacharel em Publicidade, Propaganda e Marketing, com especialização em Artes e Criatividade. Redatora Colunista do Jornal Gazeta Fuel – Coluna Artes, Cultura e Entretenimento. Espiritualista Universal. CEO e Diretora de Arte da Produtora Circa Lux.