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Resultados encorajadores para eliminar definitivamente o vírus foram apresentados na recente Conferência Internacional sobre AIDS em Munique.

fonte: nytimes.com

Agregados De Partículas Virais (Verde) Produzidos Por Um Linfócito T De Um Paciente Infectado Pelo Hiv-1, Visualizados Por Microscopia Eletrônica De Varredura.

Na Guerra Contra o HIV: Duas Frentes de Batalha

Redução de Novas Infecções

A luta contra o HIV envolve duas grandes frentes. A primeira, crucial para aliviar o fardo da pandemia, é reduzir o número de novas infecções. Yazdan Yazdanpanah, diretor da Agência Nacional Francesa de Pesquisa sobre AIDS (ANRS MIE), destacou essa prioridade em 25 de julho, na Conferência Internacional sobre AIDS em Munique, Alemanha. Ele enfatizou que, apesar do foco na prevenção, não podemos ignorar os 39 milhões de pessoas vivendo com HIV no final de 2022. “Buscar curá-los é igualmente importante”, afirmou.

A Inventividade dos Pesquisadores

Os pesquisadores demonstram uma inventividade notável em suas estratégias para curar o HIV. Eles compartilham um objetivo comum: desalojar o vírus incorporado nas células dos indivíduos infectados. Embora os tratamentos antirretrovirais bloqueiem a multiplicação do HIV – prevenindo a progressão para a AIDS e suas complicações associadas – eles não conseguem eliminar o vírus, que se esconde em “células reservatório” espalhadas pelo corpo. Essas células incluem linfócitos, macrófagos e células “microglia” do sistema nervoso central.

O HIV persiste ao integrar seu material genético – ou “provírus” – no genoma das células. Isso o torna indetectável para o sistema imunológico e inacessível aos medicamentos antirretrovirais. O vírus permanece dormente, pronto para despertar assim que os pacientes interrompem o tratamento. Dentro de seis semanas, ele se torna detectável novamente no sangue. “Pouquíssimas células reservatório são suficientes para desencadear esse rebote viral”, aponta Asier Saez-Cirion do Institut Pasteur de Paris.

Sete Indivíduos Considerados ‘Curados’

O Debate: ‘Curados’ ou ‘Em Remissão Prolongada’?

Desde 2008, pesquisadores observaram sete indivíduos – seis homens e uma mulher – considerados “curados” da infecção pelo HIV. “Curados” ou “em remissão prolongada?” Especialistas ainda debatem. Esses indivíduos interromperam todo o tratamento antirretroviral por anos, até mais de 10 anos, e o vírus permaneceu indetectável em seu sangue ou em biópsias. Suas contagens de linfócitos CD4 permaneceram estáveis, indicando uma ausência prolongada de multiplicação viral.

A Mutação Delta32 e o Transplante de Medula Óssea

Todos os sete indivíduos desenvolveram cânceres no sangue, necessitando de transplantes de medula óssea. Nos primeiros cinco casos, o doador de medula tinha uma mutação no gene CCR5, responsável pela produção da proteína receptora CCR5, que é o ponto de entrada para o HIV nas células. Quando esse gene apresenta a mutação “Delta32” em ambas as cópias, o vírus não consegue mais penetrar nas células, explicando essas recuperações raras.

Estratégias Promissoras para a Cura

Estímulo do Sistema Imunológico

Os cientistas estão explorando maneiras de estimular o sistema imunológico para reconhecer e destruir as células reservatório. Isso inclui a utilização de vacinas terapêuticas que ensinem o sistema imunológico a identificar e atacar as células infectadas. Pesquisas preliminares mostraram que algumas dessas vacinas podem reduzir significativamente o tamanho do reservatório viral, oferecendo esperança para uma cura funcional.

Terapia Genética

A terapia genética é outra abordagem promissora. Técnicas como a edição de genes podem ser usadas para modificar o DNA das células infectadas, tornando-as resistentes ao HIV. Um exemplo é a utilização da tecnologia CRISPR-Cas9, que permite a remoção precisa do provírus do genoma das células. Embora ainda em estágio experimental, esses avanços mostram um caminho promissor para a erradicação do vírus.

Desafios e Futuro da Pesquisa

Barreiras Científicas e Técnicas

Os pesquisadores enfrentam várias barreiras na busca pela cura do HIV. A complexidade do reservatório viral e a capacidade do vírus de se esconder em diferentes tipos de células dificultam a eliminação completa. Além disso, a diversidade genética do HIV apresenta desafios adicionais, pois diferentes cepas podem responder de maneira variável aos tratamentos.

Importância da Colaboração Internacional

A colaboração internacional é crucial para o avanço da pesquisa. Compartilhar conhecimentos, recursos e tecnologias pode acelerar o desenvolvimento de novas terapias e estratégias de cura. Iniciativas globais, como a Colaboração Internacional de Pesquisa sobre HIV/AIDS, desempenham um papel vital na coordenação de esforços e no financiamento de projetos promissores.

Conclusão

A luta contra o HIV continua com esforços inovadores para curar os infectados e prevenir novas infecções. A pesquisa avança, trazendo esperança para milhões de pessoas afetadas pelo vírus. A combinação de estratégias, incluindo a estimulação do sistema imunológico e a terapia genética, pode eventualmente levar a uma cura funcional ou até mesmo à erradicação do HIV. Enquanto isso, a colaboração global e o compromisso contínuo com a pesquisa são essenciais para alcançar esses objetivos ambiciosos.

Na guerra contra o HIV, cada avanço representa um passo crucial na direção certa. Com dedicação e inovação, o objetivo de um mundo livre do HIV pode se tornar uma realidade tangível